Tenho 65 anos. Tenho esta banca para não estar nas estradas a pedir dinheiro.
Desde que nasci vivi na pobreza.
Eu fui órfã até aos sete anos. Minha mãe faleceu quando eu ainda tinha meses. Nem a conheci. E assim fui parar num colégio. Cresci com irmãzinhas, e lá estudei até a 4ª classe.
Quando fiz sete anos meu pai veio me procurar. Levou me para Manhinça, para aprender o dialecto, aprender a cozinhar, pilar, cuidar de casa. Porque no colégio não aprendíamos isso. Só aprendemos português, e lá estudávamos, brincávamos.
No tempo de colonialismo trabalhei, mas vi que não dava. E graças a deus que me deu essa banca, que me dá o pão de cada dia.
Com esta banca comprei meu talhão e construi minha casa. Casei enquanto já tinha esta banca. Tive 8 filhos. Um faleceu. Três estão na África do Sul. Os restantes estão cá. Eles ajudam-me. Estão a trabalhar e sossegados nos lares deles.
Meu marido faleceu, e actualmente vivo com 2 netos.
Meu sonho é ver a vida a subir. E ter saúde para mim e meus netos. Porque a vida de agora pesa muito. É tudo que eu sonho.